Consultório Técnico – Cresta

Com o final da Primavera chega a altura de “colher” o mel, chega a altura da cresta. Esta operação pode ser crítica para o sucesso de todo um ano de trabalho. Em muitos apicultores ainda persistem dúvidas relativamente à cresta, nomeadamente:
P: Qual a melhor altura para realizar a cresta?
R: Não existe uma data melhor ou pior para realizar a cresta. O mel pode ser recolhido de uma colmeia em praticamente qualquer altura, desde que esteja completamente operculado. Por completamente operculado entende-se que pelo menos 7/8 de cada lado do quadro de mel (da alça ou da meia-alça) está coberto com uma película de cera (opérculo), que as abelhas colocam quando o néctar que recolheram finalmente se transformou em mel.

Crestar mel operculado é muito importante, pois esse facto sinaliza que o mel já está pronto, já está “maduro”. Se, pelo contrário, realizar a cresta sem que o mel esteja operculado, corre o risco de vir a ter problemas com a conservação, embalamento e a comercialização do seu mel, uma vez que ao apresentar teores de humidade elevados, o mel apresenta também maior tendência para fermentar.

Recomenda-se a realização da cresta em épocas do ano em que a temperatura ambiente esteja elevada, uma vez que tal facilita a extração do mel, pois contribui para a sua maior fluidez. Sempre que crestar, lembre-se de uma regra essencial para a perenidade e sustentabilidade das suas colónias e, consequentemente para a viabilidade económica da sua exploração: deixe sempre reservas de mel suficientes para as suas abelhas!

P: Como deve ser feita a recolha e transporte das alças durante a cresta?
R: A recolha das alças para a extração do mel deve seguir algumas regras, com o objetivo da manutenção das suas características originais e, consequentemente, da qualidade do produto final. É importante salientar que é uma etapa crítica, uma vez que é o início de um longo processo de suscetibilidade do produto: em relação às condições das instalações, dos equipamentos e às condições ambientais de manipulação. Sendo a cresta uma operação simples, é também a mais trabalhosa e mais pesada para o apicultor, devendo, sempre que possível ser realizada em equipa.

Afastar as abelhas dos quadros e das alças é algo essencial quando se realiza a cresta. Devemos ter o cuidado de diminuir ao máximo o número de abelhas que acompanharão as alças, assim como procurar diminuir ao máximo o stress causado nos enxames por esta operação. Tal pode muitas vezes revelar-se difícil ou mesmo impossível. O afastamento das abelhas dos quadros pode ser efetuado com jato de ar, pelo sistema de escovar as abelhas, pelo uso do fumigador, entre outros. Quando recorrer à utilização do fumigador, é  necessário ter em atenção que o mel é um produto que pode absorver odores com facilidade, mesmo quando operculado nos quadros. Assim, a sua utilização deve ser feita com parcimónia e de forma correta, para evitar que a utilização excessiva do fumo altere as características orfanológicas do mel.

Lembre-se que a utilização do fumigador deve ainda respeitar as regras de segurança de proteção do operador e do ambiente, nomeadamente nos períodos críticos de risco de incêndio.
Após retirar as alças das colmeias, estas não devem permanecer expostas ao sol por longos períodos, pois as elevadas temperaturas podem levar a um aumento do teor de hidroximetilfurfural (HMF) no mel, podendo comprometer os valores paramétricos definidos na legislação em vigor (Decreto-Lei nº 214/2003, de 18 de setembro).

O veículo usado para o transporte das alças até à área de extração (Imagem 5) deve ser previamente higienizado e não deve ter transportado, recentemente, qualquer material que possa ter deixado algum tipo de resíduo (produtos químicos, adubos, esterco, etc.). Considere ainda cobrir as alças com uma tela impermeável e ignífuga caso o meio de transporte tenha a saída de escape à frente das alças (considerando o sentido da marcha), por ex.: tratores com atrelado, para evitar a contaminação do mel com resíduos da combustão e a perda de qualidades aromáticas do mel.

Textos adaptados a partir do Manual de Boas Práticas na Produção de Mel, de Ana Maria Gomes de Sousa Neves, editado pela FNAP em julho de 2016. Disponível em: http://fnap.pt/web/wpcontent/uploads/documento_cnt_projectos_121.pdf