O setor apícola é já considerado em Portugal uma atividade do setor agropecuário chave, não só pelo impacto direto e contributo líquido que representa a produção de mel, mas também pelos serviços ecossistémicos prestados indiretamente pelas abelhas na manutenção da biodiversidade e na polinização de culturas.
O desenvolvimento deste setor e a sua profissionalização trazem consigo a procura por novas práticas, não baseadas exclusivamente na manutenção do exame de abelhas, mas introduzindo novos procedimentos, que, alterando a biodinâmica da colónia, maximizam a rentabilidade da atividade e multiplicam as funcionalidades de uma colmeia. A produção de enxames por desdobramento, a criação artificial de rainhas, a polinização de culturas, a produção de pólen, própolis geleia-real ou veneno, a transumância, são todos novos desafios apícolas que requerem uma abordagem específica da colónia. Adicionalmente, acrescem as frequentes ameaças das pragas e doenças e os efeitos adversos das alterações climáticas, os quais exigem ao apicultor uma vigilância continuada não só para garantir a sobrevivência das colónias mas particularmente para as manter num bom estado de saúde com capacidade de responder às exigências da produção.
O estado nutricional de uma colónia é reconhecido como um fator chave para garantir uma colmeia saudável. Um fluxo deficitário de néctar e pólen na colmeia condiciona no imediato o seu desenvolvimento, dando espaço à proliferação de patogénicos e consequentemente à redução das atividades e quantidade de abelhas na colónia. É por isso natural que se verifique por parte dos apicultores um incremento na procura de suplementos alimentares como adjuvantes na gestão das colmeias, permitindo colmatar os desequilíbrios nutricionais de acordo com os resultados desejados do apicultor. A suplementação com hidratos de carbono para repor a escassez de alimento devido a um inverno prolongado já não é o única razão considerada para o recurso a alimentação artificial, acrescendo a estimulação ao crescimento da população antes de um fluxo de néctar específico ou após um desdobramento, o enriquecimento proteico durante uma polinização em monocultura, ou a adição de açúcares para maximizar a produção de pólen. O mercado de produtos para apicultura tem demonstrado uma enorme capacidade para responder a estas necessidades, verificando-se uma escalada crescente e agressiva no número de produtos comercializados, fruto da baixa regulamentação de produtos alimentares para animais e também da apetência dos apicultores para garantir as colónias saudáveis. São já mais de 40 produtos atualmente disponíveis no mercado Português, com uma composição muito variável e por vezes mesmo indefinida, alegando um conjunto de ações ao nível de estimulo à criação, suplemento energético, suporte à criação de rainhas, melhoria da qualidade de postura redução de níveis de reprodução de varroa, melhoria da microflora intestinal das abelhas, prevenção da nosema, melhoria da saúde de colmeias infestadas por Loque americana, entre outras.
Face à crescente diversidade de produtos e ao incremento do seu uso por parte dos apicultores, propõe-se com este projeto efetuar uma avaliação da atual situação de mercado dos suplementos alimentares para abelhas de modo a disponibilizar aos apicultores informações que permitam apoiar a sua decisão com base no conhecimento efetivo da composição qualitativa dos produtos e de acordo com as necessidades da colónia.
OBJETIVOS DO PROJETO
A suplementação artificial das colónias de abelhas é atualmente uma prática em crescimento na apicultura Portuguesa, não exclusivamente para colmatar a escassez de provisões resultante de variações climatéricas adversas e reduzir a mortalidade das colónias, mas particularmente para garantir um bom estado nutricional/sanitário das abelhas nos momentos e condições específicas de produção. Esta prática, associada à reduzida regulamentação nesta área, está a levar à proliferação de produtos comerciais à base de hidratos de carbono, proteína e outras substâncias de diversas origens e composições. O impacto destes produtos nas colmeias poderá permitir ao apicultor colmatar os desequilíbrios da colónia resultante das condições adversas ou de maneio, mas também poderá introduzir riscos para a saúde das abelhas e para a qualidade dos produtos apícolas, dependendo das matérias-primas utilizadas e da presença de substâncias nocivas. Com a realização deste trabalho de investigação aplicada pretende-se:
- Identificar as práticas atuais de alimentação artificial utilizadas pelos apicultores portugueses
- Avaliar a qualidade e segurança dos produtos comerciais disponíveis no mercado, bem como o seu potencial nutritivo e impacto no desenvolvimento das colónias.